Teatro da Vida


Pintura: Sr. do Vale
2,50m x 1,50m

Detalhe

Detalhe

Meu teatro de peças breves
mal abro as cortinas
bilheterias desertas
o som das palmas
são dos fantasmas
que me sopram as falas.
No teatro real
há poucas vidas
que derrubariam máscaras
para mostrar de vez
suas almas vazias.
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As camadas de cada um.
Sopro e passado.
Tempo marcado
no tempo que a lembrança guardou.
Suplica a mente
que senti o tempo perdido
no momento que já passou.
Súplica de gente que mente.
Encena a vida vagueia,
mostrando sem saber no que se transformou.
Apenas com a certeza de que vingou.
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Monólogo

Pintura: Sr. do Vale
0,72m x 0,54m
,
,
Falo pra mim mesmo às escuras
O que não consigo pronunciar.

Uma voz calada rompe o silêncio
É o pensamento em redemoinhos de desencontros tateando a noite

Tudo não passa de um sarau solitário

Sem verso
Sem rima
Sem rumo

IOANES NULLIUS

Passagem Secreta


Pintura: Sr. do Vale
2,50m x 1,50m

No meu ventrículo aberto
encharcado
encontro você imersa
.
nem nada, nem flutua
apenas observa e manipula
a saída e entrada dos meus ecos
refletindo contra as ondas,
maremotos dos seus.
.
Que fada, que musa, que nada?!
Apenas se afunda lá dentro
como serpente d'água
.
e o ventrículo se enche
e logo depois murcha
por ver você esgueirando-se
dessa sua forma insipiente.

Fotogênese


Pintura: Sr. do Vale
3,00m x 2,00m

Interiormente, sou assim
Tingida de vermelho
Minhas emoções ardentes
- contra suas expressões frias -
São vermelhas.
As mãos que me tateiam internamente
Cravam unhas em meu útero
Provocando o fluido viscoso que emerge
À superfície que eriça.
E tirando o estreito canal alvo
Que me sobrou para o vislumbre seu
Sou essencialmente da cor
Que faz guerra, dá tensão
E tira o sono...
Quente,
De lua, de fogo
Sou.
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.
E pensar que é uma sombra que me persegue
Cavocando-me por dentro

Abstração


Pintura: Sr. do Vale
2,50m x 1,50m




Quem sabe a policromia não atinja
A clorofílica paixão de jade?
Nada é tudo o que se finja
E que tinja de cor a verdade.
A verdade do jade não é fato
Nem as cores concretas, o abstrato.
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.
A b s t r a ç ã o
.
A distração que tomou conta de minha mente
E do coração também.
IOANES NULLIUS
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O poder que a abstração exerce
em nossa mente inquieta
Logo se quer tornar concreto
o que abstrato está
A razão nos faz querer a tudo decifrar
Mas que graça pode haver
se a graça está no mistério,
nas interpretações diversas,
na imaginação a correr a solta
Existe coisa mais abstrata
do que nossa concreta vida?
Ianê Mello
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Eu sou um anjo
Um gárgula
O dragão encolhido
Minha angústia prevê
Autofagias
Eu abocanho meu pescoço
Encurralado que estou
Pelo escudo do seu desejo
Que me ataca em jatos multicoloridos
Eu finjo medos
Eu nem tenho olhos
E eu morro ansiando
Que ele pinte de carnaval
A minha verde pele.

A Côr do Elefante de Day


Pintura: Sr. do Vale
2,50m x 1,50m


Uma mão
Uma gota de mel
Um elefante incrivelmente lilás
E nada mais.


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Essa mão estendida

Doce mão que dá guarida

Dela escorre mel

Doce mão que afaga

Doce mão que apaga

da mente a mágoa

Que sente a textura da pele

Seja ela macia ou áspera

Mão que acaricia suavemente

com sutileza de movimentos

com intensidade no tocar

e ao mesmo tempo com leveza

Mão que sente na ponta dos dedos

a pele que toca com doçura

Seja homem ou animal

Pequeno ou grande

Feio ou bonito

Bom ou mau

Por ela tocado

sente-se abençoado,

nutre-se de amor...

e adormece mansamente.

Dança Anárquica

Pintura: Sr. do Vale
3,00m x 2,00m

Por detrás das sombra da cordilheira
há labaredas que dançam ao som da correnteza
e se lançam à água
para virem ter conosco
desfeitas em branco e vermelho.
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De fato estás deitado
o cimo da cabeça exposto
e é de lá que brotam as labaredas
é de lá eu escorre a rubra lava
e quem dançam são seus pensamentos
ao sabor do que é você mesmo
anarquista, graças a deus.

Polissemia


Pintura: Sr. do Vale
2,50m x 1,50m

Meu pincel
objeto tinhoso
que se esboça fálico.
.
Nem durmo, nem disfarço
que minha cama dura
de colchão de escritos
me faz imaginar-te nua
a me olhar por essa tua janela
de moça quase pura
que delira na minha tela
com seu olhar caleidoscópico.
.
Penso no teu deitar
de pernas arqueadas
em que me miro.
.
O que será da minha mente
que cria miragem tua
- minha paisagem bucólica
-onde piro?

Detalhe

Estrondosamente quieto ou quietamente estrondoso.

O Mundo Imaginário de Ioanes Nullius


Pintura: Sr. do Vale
2,50m x 1,50m
A sanidade não tem vez nesse mundo

O Pensamento
E a reflêxão
A calma e a lisergia do boi,
um símbolo ou uma chave do inconsciente.

A prece

O fogo da paixão, na ardência viva de sua memória
A Lua, bailarina branca dos andarilhos solitários

O sumidouro
As plantas
O vulto não revelado

O mundo de Ionaes
Repleto de formas indefinidas

Incompleto
Incompreensível
s.v.
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Não jogues as cartas fora
nem queime neste fogo baixo da tristeza
há quem ainda perceba o órgão rubro
que de lata, dilata, e vibra
ao ver a cena
da noite que vai embora
sem se despedir.
Deixe alguns versos inteiros
nem que pela metade, irão servir
no futuro porvir de um sorriso
deixe-os tentar florir
reflorestar o órgão latente
antes que demente ele se vá
para o fogaréu das poesias
que não sobreviveram por lá.
sra. dos 4 As

Triade





Pintura: Sr. do Vale
2,50m x 1,50m


A superfície que atrai
a extremidade que toca
ninho sem aconchego dentro
aurora boreal por fora.
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